Morar mais e melhor na longevidade é rever propostas de vida
Por Lygia Passos Galvão*
É fato que vamos viver mais. A geração Baby Bommers (aquela que nasceu entre 1945 e 1960), que estudou em um único colégio e trabalhou em uma única empresa – e acreditava quando aos 60 anos iria somente cuidar dos netos – levou um susto ao descobrir que pode fazer mais. E também vai precisar cuidar dos pais – que também estão vivendo mais…. E não sabe como morar melhor para esta tal longevidade que ganhou de presente.
Aqueles que conquistaram uma aposentadoria e uma casa própria ( o sonho de consumo) estão hoje tropeçando na decoração da casa, esta já com 30 anos. E caindo não só ao chão como em depressão com a solidão de estar sozinho nesta casa. Os filhos se foram – ou dependem deles – e são da geração X (outro assunto…). E ainda tem que acomodar bem os pais.
O comércio e os profissionais oferecem projeto diferenciado desde recém-nascidos até os recém-casados, considerando que a finitude da vida é breve. Mas desconhecem a população sênior. Quando procuramos propostas e soluções criativas para os 60+ encontramos adaptações. Portanto, o assunto e a oportunidade de negócio são enormes. Afinal a expectativa é que em 2025 a população com mais de 65 anos será maior do que bebês com menos de 1 ano , representando 13% da população brasileira.
Cozinhas com móveis fixos e privilegiando acessibilidade. Via Pinterest
Morar mais e melhor na longevidade é rever propostas de vida. Escolher e definir onde – e como – morar requer avaliar a poupança guardada e classificar a saúde física e mental. Ficar na própria casa é uma das opções, como dividir a própria casa com outros amigos, morar em comunidades ou mudar-se para uma casa de repouso ou ILPI (Instituto de Longa Permanência para Idoso, antigos asilos públicos ou privados, muitos chamados de “residenciais”). Para qualquer escolha destas, será obrigatório rever todos os ambientes da moradia – e todos os equipamentos, acabamentos, mobília, até a decor – para manter a segurança física e mental. Vai bem além da aparência, estética. O bonito tem que ser prático, seguro, fácil de usar e de manter. A estética tem que vir aliada à técnica. Questão de prioridade.
Banheiros com todo conforto e acessibilidade. E que privilegiam revestimentos que dão segurança. Via Pinterest
Duchas de fácil manuseio, nichos organizadores, revestimentos seguros. E tudo sem pontas. Via Blog da Revestir.com
Retirar tapetes soltos e colocar barras no banheiro é o básico que ainda não é praticado. E só quem já teve alguém da família com sequelas de ” um simples tombo” sabe do que estamos falando. Vamos além! Corrigir altura e densidade do sofá e colchão, ter cadeiras e poltronas firmes e com braços para apoio, retirar mesas de apoio laterais com vidro e base em 3 pés, criar iluminação adequada para a circulação noturna entre a cama e o banheiro, testar os vãos de acesso aos cômodos para passagem de cadeiras-de-rodas, nivelar pisos, trocar maçanetas e puxadores padrão bola para modelos em manivela ou alavanca – mas cuide dos modelos que costumam engancham a roupa. Ou monocomandos bem práticos. Essas, entre outras, ações importantes para a proteção física.
Metais com fácil manuseio na cozinha e no banheiro. Via Blog da Revestir.com
Acabamentos merecem o máximo de atenção. Revestimentos ganham outro sentido. Nada de pisos lisos, escorregadios, aqueles lindos e brilhantes que eles tanto gostam. Muito menos com uso de adesivos antiderrapantes, que não duram – e freiam a ponto de derrubar. Opte pisos antiderrapantes, mesmo que custem um pouco mais para limpar – principalmente em banheiros e ainda mais em box de banho. Redobre a atenção na escolha nos locais que ficam úmidos ou molhados, como cozinhas, hall de entrada, varandas, garagens, calçadas. Os carpetes são bons para andar e mais confortáveis ao pisar, mas necessitam de maior manutenção. Cubas devem priorizar o uso fácil. bem como os metais dos banhos e cozinhas, que devem ter comandos de fácil manuseio, como alavancas ou cruzetas. Fuja dos modelos arredondados, difíceis de usar.
Maçanetas e puxadores de desenho limpo, sem pontas. Via Blog da Revestir.com
Entender que a degeneração é fato e natural no ser humano. Aos 60, os sentidos estarão reduzidos. Na visão as cores e no tato as texturas em tons neutros não são percebidas e atrapalham na escolha da roupa de vestir. Objetos frágeis, pequenos ou grandes, não são percebidos e ficam perigosos se localizados na direção da circulação. Acesso a objetos do quarto ou da cozinha precisam estar na altura e no campo de visão. Amplificadores que auxiliem perceber o baixo som da audição. A iluminação também precisa ser bem pensada para todas atividades propostas.
E também as tecnologias, ainda pouco usadas, como ter acesso ao mundo externo através da televisão e a família através do Skype. Para auxiliar a deficiência do olfato, com sensores de incêndio e de fumaça são fundamentais. Luzes que se acendem com sensores de presença, principalmente corredores e escadas. Descobrir e valorizar a tecnologia com a manipulação em Redes Sociais, Skype, televisão, ativando a memoria e ligando ao mundo lá de fora. Além da ajuda de programas de atendimento através de relógios que com um toque será assistido por um salvamento. O assunto é importante e vasto. Nunca se sabe quando se vai precisar…
* Lygia Passos Galvão é arquiteta de interiores especializada na “Melhor Idade”.
21. 98890.1106