Biofolia – o que é, porque e como usar em sua casa

Apesar de parecer tendência nova, a biofilia, conceito que fala de vida, é coisa bem antiga

Joyce Diehl

Bastou “estar na moda” para todo mundo se perguntar: mas que raios é essa biofilia?

 

 

Apesar de ter aparecido agora – e reforçada em tempos de pandemia  e suas clausuras todas – o termo é bem antigo. Foi tornado público, por assim dizer, pelo psicanalista alemão Erich Fromm (se não conhece, não sabe o que está perdendo!), ainda em 1964, para descrever a nossa atração por tudo que é vivo e vital. Pense na sua visão ideal de relaxamento. O que você vê? Um verde sem fim, um mar sem limites, uma estrada de terra, um céu azul de brigadeiro, cães brincando na grama.

Mas quem levou os “louros” foi o ecólogo americano Edward Wilson em seu livro publicado em 1984 – Biofilia.  O termo vem do grego bios, que significa vida,  e philia, que significa amor, afeição, ou necessidade de satisfação. Ao pé da letra, biofilia é o amor pela vida. Wilson descreve a ligação emocional que nós temos outras formas de vida, com a natureza E que isso está em nosso cérebro, em nossos genes, sendo hereditária – e isso vem sendo construído há dezenas de milhares de anos de experiência evolutiva. Em sua hipótese – porque pode, também, ser desconstruído – seres humanos procuram inconscientemente essas conexões ao longo da vida.

 

 

Muito se fala sobre isso. Em comum, que a biofilia é um sinal de saúde física e mental. Diversos estudos comprovam os benefícios do convívio com  a natureza e outros seres vivos – como animais (se identificou?). O que ajuda a explicar porque as pessoas cuidam – até com certo exagero – e até se arriscam para salvar animais,  domésticos ou selvagens, até mais que a outros seres humanos.

 

 

E mantém plantas e flores em suas casas – pode ser até uma horta. Para nossos antepassados, isso foi uma questão de sobrevivência –  saber o que comer e o que não comer, como tratar certas doenças, como se livrar de pragas ou doenças. Algo que se perdeu no tempo, mas também “está em alta” – em chás, óleos essências, homeopatias, e por ai vai.

Por ser vivida – virar hábito – através de experiências do dia a dia, que se  vive desde que se  nasce –  e mesmo que a biofilia seja uma tendência genética, há a necessidade de reforço de contato, como dizem, uma certa convivência  para que reforce as conexões com a natureza. E que pode, literalmente, nos salvar. E através de nossa “memória emocional”, nosso instinto, que nos leva a sempre lembrar o que foi bem vivido para nos deixar situados e conectados com quem somos. E “longe de todo mal”.

Mas porque veio à tona agora?

 

 

Pense na sua infância. Toda essa tecnologia – pessoal, urbana, alimentícia, etc.etc.  – traz um distanciamento da natureza nunca jamais visto. Nosso filhos –e  até nós – preferimos uma tela nas mãos, um fone no ouvido a ver e ouvir a natureza lá fora.  Os avanços tecnológicos nos ajudam, sim, não temos como “voltar atrás”, mas como nos desconectam da “ vida lá fora”. Que tal um equilíbrio? Quem tem pets em casa e vivencia isso de coração, sabe do que falo: basta prestar atenção em seus olhinhos que o mundo parece parar…

 

 

Tente parar para ouvir o canto de passarinhos, identificar os mais diferentes sons e isso já vale o seu dia. Mexer na terra – olha as plantas “em alta” ai minha gente! – pura terapia. E não é teoria: é Ciência.  O importante é entendermos que a biofilia pode ser despertada, acrescida, e trazer muitos benefícios para a saúde física e mental através da contemplação do belo, do reforço da afetividade, da expansão do conhecimento, da criatividade e da imaginação.  E que isso pode se dar em casa, no convívio familiar, ou pela educação.

 

 

 

E pela  arquitetura, através da harmonia  – e melhoria, exaltação  – dela com o entorno, com a natureza, no respeito ao meio ambiente e aos seres vivos – incluindo nós. Poder proporcionar o contato mais direto com seres vivos (animais, plantas) – nem que seja sendo um ambiente petfriendly e plantas em vasos – e seres físicos (ventilação e luz naturais, rochas naturais, etc. – a tal arquitetura inteligente ou arquitetura verde –  que tira proveito do que a natureza oferece – e  de graça) – nem que seja através de vistas privilegiadas – ou construídas.

Outra sugestão é apostar no desenho biofílico, ou design biofílico  – nas casas, nas cidade. Como mais áreas verdes na cidade – e pode ser aquela horta comunitária, ou os telhados verdes, que já viraram lei em algumas delas. E, claro, preservar o meio ambiente, uma questão de sobrevivência até. Parar com essa história de tirar toda a vegetação existente  e plantar novas depois da obra acabada. Sabe quanto tempo leva uma árvore para alcançar certo porte???

Como fazer?

 

O princípio da biofilia é bastante simples: conectar humanos com a natureza para melhorar o bem-estar. Como podemos alcançar essa conexão? Ao integrar a natureza em seus projetos, em sua casa, em seu ambiente de produção (muito além de trabalho). Estudos mostram que uma pessoa que passa oito horas por dia dentro de um escritório, sem contato com a natureza, tem taxas reduzidas de metabolismo, aumento do risco de diabetes e doenças cardíacas, aumento do risco de depressão, dores nas costas e no pescoço. Males do século.

Mas, como melhorar? Fiz ate uma “listinha”:

– espaço para animais em sua casa – ou para seus pets, ou para os passarinhos da redondeza ( arvoretas atrativas, potes de alimentação, casinhas para ninhos, etc.;

 

 

– ambientes com vistas – sejam naturais ou construídas ( jardins, arvoretas – que podem ser atrativas para insetos, pássaros ,etc.);

– iluminação natural e ventilação naturais; trabalhar luz e sombra, deixar o vento “limpar” o ambiente;

– formas e silhuetas orgânicas nos espaços ou mobiliário ( NADA na natureza é reto!);

 

 

– uso de materiais naturais – na construção ou nos objetos, mobiliário: madeira, tecidos, argila (tijolos, revestimentos, vasos, objetos  – passam por processo de queima na produção, mas vêm da terra, mal não há! ), pedras;

A madeira, por exemplo, oferece uma ótima conexão com o exterior e com seu “eu” emocional. Estudos demonstraram que a madeira relaxa o sistema nervoso autônomo, diminuindo as respostas relacionadas ao estresse. Explore e destaque a sua beleza natural – sem muitas tintas ou vernizes. E sempre, sempre, use madeiras de reflorestamento, ou de reuso/demolição, móveis antigos, etc. Em pisos, relaxam o corpo todo: basta estar descalço; voltemos aos tacos!

 

 

– uso de plantas naturais  – de qualquer porte, de qualquer espécie, está valendo;  falta criatividade ou jeito para a coisa? Assista os vídeos da “louca por plantas”, Carol Costa, no Youtube – ou de outros, já que á assunto que não falta;

E se nada disso for possível?

 

 

 

– uma imagem – quadro, painel de parede, papel de parede – que nos “leve” até a natureza já ajuda;

– um revestimento que remeta à madeira – quanto menos fake, melhor – em móveis, paredes, no piso;

– escutar sons da natureza, boa companheira para o seu fone, para seu relax, para a sua meditação – essa em “super alta” porque conecta com a nossa natureza maior – nós mesmos.

 

Joyce Diehl, arquiteta, amante da casa com alma.

Imagens: Imagens sugestivas via Pinterest. Qualquer autoria, favor entrar em contato.


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