Paletas de cores 2021: o que dizem sobre o ano?

Saem as paletas de cores, que falam mais de nosso comportamento do que delas mesmas. O que esperar para 2021?

Joyce Diehl (*)

 Depois de um ano conturbado e muito fora da curva como esse de 2020 – um ano mais para se esquecer do que comemorar, a não ser estarmos vivos,  a curiosidade fica ainda maior, apesar das incertezas, tantas. Vale lembrar que tais paletas são escolhas feitas por experts de vários setores focados no comportamento humano. E no sentimento em relação a tudo que estamos vivendo. Feito uma resposta, unindo tudo, vinda de diversos setores, idades e lugares desse mundão de Deus.

O que se sabe é que ressignificamos muita coisa. A casa com memória afetiva, “casa com alma”. Ou “casa com afeto”, conceito de Fábio Galeazzo, designer e consultor de tendências no setor. O foco é aqui e agora, frente a um futuro incerto. O que temos de palpável é o que vivenciamos – bem mais do que vivemos. Que o real valor vem de experiências vividas, agora encerradas dentro de nossos espaços. A casa como “metáfora da vida”, na fala de Galeazzo. Um valorização verdadeira, longe do glamour antes reinante. De nossos espaços como são, sejam eles de morar ou trabalhar que, para muitos, virou um só.

Tendência de cores para 2021: as apostas da Pantone (Foto: Divulgação via Casa Vogue)

 

 Voltemos às cores. São muitas as paletas escolhidas. E há nelas muito em comum – se não nos tons, nos porquês. A ideia é tentar compilar os muitos pensamentos em torno do tema e ver que rumos estamos pegando. Sim, porque tendência é isso – tender a –  e está sempre conectada com o futuro.

Segundo o Pantone Color Institute, 2021 será marcado por “uma seleção de cores inspiradas pela beleza da natureza”, que se “apoiam na flexibilidade e na reinvenção”. Mudanças necessárias em tempos de pandemia, onde a natureza precisou ser reinventada, nem que fosse numa horta na janela de casa.

Pantone analisa diversos comportamentos a partir do universo da moda e pensando no calendário das passarelas de Nova York. Para os especialistas, as cores Outono/ Inverno 2021 refletem interesse pelos eternos clássicos sazonais e sua atemporalidade, versatilidade e funcionalidade. E que ao mesmo tempo incentivam a criatividade e o pragmatismo. Em resumo: o famoso – “menos é mais”. Priorizar o valor e não o preço. Fugir do frugal, do modismo. O que resulta uma paleta clássica, baseada em variações de laranja, vermelho, terracota, azul e rosa suave.  Leatrice Eiseman, diretora executiva do Pantone Color Institute, resume lindamente:

“Oferecendo uma narrativa rica, a paleta de cores para o Outono/Inverno 2021 destaca nosso desejo por cores versáteis e atemporais (…) despojada, sem excessos (…) impregnadas de força e personalidade, elas incentivam nosso desejo contínuo de nos expressarmos, de forma única e por meio de criações visuais afirmativas e incomuns”. 

E vai além:

As cores para a Primavera/Verão 2021 são tons extraídos da natureza, cores que reforçam nosso desejo por tonalidades flexíveis que funcionem o ano todo. Infundidas com uma autenticidade genuína que continua a ser cada vez o mais importante, elas combinam um nível de conforto e casualidade com faíscas de energia que nos encorajam e elevam nosso bom humor”.

O que tem vários pontos em comum com a marca  de tintas Sherwin-Williams. Para a próxima temporada, a marca adotou o Bronze Conectado como carro-chefe. Um tom sofisticado e enraizado na natureza. Segundo a empresa, o matiz tem como proposta ser aconchegante, inspirador e revigorante:

A casa se tornou o refúgio definitivo do mundo, e a cor é uma maneira fácil e eficaz de criar um paraíso pessoal”, declara Patrícia Fecci, gerente de marketing para serviços de Cor & Design da marca. “Bronze Conectado encoraja você a criar um espaço santuário para reflexão e renovação conscientes.”

Discreto e ousado, a cor funciona como um neutro que pode ser usado em qualquer lugar. Em destaque ou secundária, foi pensada para transmitir sensação de conforto e santuário nos mais variados tipos de ambientes. Também cai bem com texturas leves e naturais.

Bronze Conectado é a cor de 2021 da Sherwin-Williams (Foto: Divulgação via Casa Vogue)

 

A nova cor integra a paleta Santuário da Sherwin-Williams, elaborada pelo núcleo de pesquisa e tendências da marca. O conjunto prevê uma necessidade de equilíbrio para o ano que vem. “Bronze Conectado é uma cor reconfortante, vinda da natureza para trazer uma sensação de relaxamento e serenidade (…). Também há segurança em seu sentimentalismo, com laços nostálgicos com o design dos anos 70 e 90, mas com tons de cinza que dão um toque moderno distinto”, complementa Patrícia.

Focada na arquitetura e interiores, Sherwin-Williams lança 40 tons, divididos  em quatro paletas, conforme o perfil do consumidor:


Cores para todos os gostos e estilos nas paletas da Sherwin-Williams

 

Santuário, influenciada pela biofilia, explora o poder da natureza para nutrir o bem-estar e a calma. Vem alinhada ao design escandinavo – e seu “menos é mais”. Perfeita  para quem quer desacelerar e focar no que é realmente importante. Encontro,  que tem como base as heranças e as histórias por trás delas. Uma estética moderna e boêmia, voltada para espaços com materiais naturais, complementados por cores como Alecrim Selvagem e Pavê de Chocolate. Continuidade, focada na vida inteligente e na nossa relação com a tecnologia, por vezes oásis, pensada para ambientes cotidianos, com brancos, grafites e toques de cores. Inspirada na mistura do sintético e natural, traz tons profundos e vivos, como Romance Lilás. Fusão, uma expressão criativa por meio do uso das cores bem personalizadas, vibrantes.

A cor do ano ColoursFuture o terroso Pedra Esculpida

 

A Coral trouxe paletas que incentivam a coragem de enfrentar medos e desafios. Resultado do ColourFutures, um estudo global promovido pela AkzoNobel que investiga comportamentos. E se traduz na cor do ano, o terroso Pedra Esculpida, resumida em ” a coragem para esculpir a mudança”. E mais quatro paletas. Segundo o estudo, as pessoas que mais causaram impacto nos últimos tempos foram aquelas corajosas para defender o que acreditam.

Cores expressivas, a paleta autoconfiante da Coral 

 

Para recarregar as energias, alimentar a alma e aumentar a autoconfiança, a paleta Cores expressivas faz jus ao nome. São cores para ambientes cheios de personalidade. A ideia é que os tons  ampliem a criatividade e reforcem o senso de identidade de quem vive ali. Os nomes das cores são sugestivos: Pedra Esculpida, Bronze Tibetano, Vermelho Blefe, Vermelho Henna, Chá Dançante, Presente Romântico, Luxo Moderno, Campo de Alfazemas, Vestido de Boneca e Cereja Intensa.

Solidariedade social traduzida na paleta Cores para Unir, da ColoursFuture

 

Outra tendência potencializada foi a solidariedade. A criação de diversas comunidades virtuais para suprir a falta dos encontros presenciais e a falta de bens materiais. E novas formas das pessoas se conectarem umas às outras (lembram-se das sacadas, protagonistas; das lives de artistas?). É disso que a paleta Cores para unir trata: um conjunto de terrosos, neutros e suaves que incentivam a comunicação, a integração e a colaboração. Traduzida no décor com os materiais naturais, como madeira, cobre e cerâmica. Cores: Pedra Esculpida, Pena Prateada, Amêndoa Confeitada, Marrom do Século, Cinza Fóssil, Corços Brancos, Teatro Barroco, Marrom Havana, Marrom Ardósia e Céu Cinzento.

Cores atemporais : voltada para contar histórias pessoais

 

Para aqueles que rejeitam os modismos, a paleta Cores atemporais é a ideal. Traz ambientes que permitam  contar histórias pessoais. Formada por amarelos, ocres e neutros, valoriza o passado e busca relevância para o futuro. Ou seja:  criar espaços atemporais que aceitam qualquer combinação de móveis e objetos (personalização, com certeza). Cores: Pedra Esculpida, Vista do Imperador, Cappuccino, Ouro Monarca, Creme Brulée (cor de 2019), Teia de Aranha, Silêncio de Inverno, Branco Barbante, Branco Europeu e Cobre Suave.

Paleta Cores do planeta, que une sustentabilidade e biofilia

 

Consciência ambiental é o tema central da paleta Cores do planeta. Une sustentabilidade e biofilia. Necessidade de resgatar a natureza em tons que remetem ao mar, céu, plantas e solo. São azuis, verdes e marrons que trazem a sensação de calma e reequilíbrio aos espaços. Cores: Pedra Esculpida, Praça no Inverno (cor de 2020), Jardim da Meia-noite, Mistério do Oceano, Blueberry, Vento Suave, Tempestade Iminente, Melodia Suave, Esgrima e Mica Negra.

Meia-Luz, da Suvinil: inspirada no quase infinito dégradé do pôr do sol e seu caráter mutável 

A Suvinil parte da cor Meia-Luz, inspirada no quase infinito dégradé do pôr do sol e seu caráter mutável – que também fala sobre nós. Meia-Luz é um tom de rosa avioletado que ganha diferentes tonalidades conforme a variação da luz. Foi a escolhida está entre três paletas –  Resgate, Consciência e Conexão  – que somam 38 cores.

Resgate representa a simplicidade do passado, a memória afetiva dentro de cada um de nós. Aposta em brancos orgânicos, amarelos discretos e tons inspirados nas fibras naturais. Também estão presentes tons amadeirados, cinzas discretos.

Consciência vai ao extremo em cores –  vermelhos, terrosos, azuis, verdes – mas em tons delicados e inspirados na natureza. Segue com tons amanhecidos, não vibrantes, calmantes, orgânicos, numa homenagem – ou grito de proteção –  pela natureza – de novo, do planeta e nossa –  em busca de equilíbrio.

 Conexão aposta nos os rosas e lilases crepusculares e verdes azulados. Traz um olhar otimista sobre a tecnologia e a presença dela em nossas vidas de forma delicada, como as memórias de nossa infância. Tem ares retrô.

Se revisarmos essas falas, conceitos básicos se repetem. Menos é mais, personalização (memória, história, afeto, consciência, feito por mim), conexão entre as pessoas (não só entre pares ou pela tecnologia, mas pela empatia), conexão real com a natureza (biofilia, design biofílico, materiais naturais, feito à mão) e, consequentemente, sustentabilidade (que vem da boa escolha dos materiais, do não desperdício, da durabilidade, da atemporalidade). Afinal, passar por essa prova de interiorização, de total mudança de hábitos, de valorização do que somos mais do que temos, e não mudar de verdade, não seria um bom caminho. Que realmente seja um “novo normal”!

 

Joyce Diehl, arquiteta, especializada em branding

 

 

 



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