Pixação, pixo, grafite: manifestações antes – e ainda, por muitos – vistas com maus olhos, como válvula de escape para os “aprisionados” entre os paredões de concreto dos grandes centros – galgam seu próprio espaço nas cidades, sob a forma de intervenções urbanas, em painéis de maior escala, ganhando status de urban art. Nomes como Crânio, Speto, Os Gêmeos e , mais recentemente, Cobra, consagrado por seu grande painel de cunho social durante as Olimpíadas no Rio de janeiro, são contratados para mostrar sua arte em fachadas de prédios públicos e privados, painéis de grandes festivais e outras manifestações, além de jobs para marcas antenadas como o novo mercado, com as novas gerações.
E o mercado de arte. Novos nomes vem se consagrando, tendo suas obras expostas – e comercializadas – em renomadas galerias de arte contemporânea, como Luis Maluf Art Gallery, A7MA e San Paul ( Miami). Como o de Rafael Sanches, para quem “tudo é manifestação da arte”, e que recentemente produziu um painel para a Google.
Precoce, Sanches, como é conhecido, teve seu primeiro contato com o grafite aos 14 anos. Mas mergulhou mesmo, de cabeça, aos 20 quando, cursando arquitetura, conheceu o mundo da tipografia. Um mergulho sem volta. E é sobre esse “mergulho”, suas emoções e outras inspirações que ele hoje nos fala:
Além do visível
“As palavras tem poder. Isso não significa que precisem estar totalmente visíveis ou legíveis para continuar tendo esse poder. Busco texturas através da tipografia. Insiro nelas mensagens que acredito trazerem força e energia para cada uma das obras. A arte é interior e a ideia é despertar, principalmente no meu público, mais jovem, aquilo que vem de dentro, e que eles julgam ser arte.”
Arte como sentimento
“Talvez minha principal influência seja Pollock ( referindo-se a Paul Jackson Pollock, 1912/1956, pintor norte-americano, referência no movimento do expressionismo abstrato) um pouco pela arte abstrata, que me fascina mas, mais que isso, pelo jeito com que ele pensava seu trabalhos, o sentimentos que ele colocava neles. Arte é sentimento, isso me motiva. ”
Arte como cura, como reflexão
“Costumo dizer que faço o que eu faço porque é isso o que sou. Na primeira semana em que comecei a vender gravuras pela internet, com 20 anos, eu já tinha como verdade absoluta que era exatamente para isso que eu tinha vindo ao mundo.
Onde quero chegar com meu trabalho? Quero chegar ao olhos de todos, fazer com que pratiquem a reflexão, principalmente os jovens. A cada ano que passa e o meu trabalho vai sendo difundido, sinto que minha responsabilidade social aumenta proporcionalmente. Acreditar que de alguma forma a arte cura, para mim significa querer ajudar ao outro de alguma maneira através do meu trabalho!”
Tudo é arte
Muita gente fala em grafite, outras em pixo e sua transformação em urban art. Vejo tudo isso como formas de manifestação cultural e visual e , portanto, como arte. Busco algumas características do pixo e da rua no meu trabalho, acredito no forte poder da pichação e sua história.
Arte em toda parte
Sobre o movimento migratório da urban art para as galerias, acho incrível. Eu mesmo já tive obras na Luis Maluf e convivi com alguns artistas representados pela galeria. É um mercado e expansão e essas galerias estão trazendo para dentro das casas vários artistas de rua.
Essa evolução é totalmente animadora. Já desenvolvi projetos em murais de 45m x 7m na horizontal, projetos com marcas, trabalhos em festivais, Dos trabalhos mais gratificantes tenho em mente estão algumas das minhas obras que foram para Miami e estão na galeria San Paul na Wynwood Avenue e um painel recente que produzi para a Google.
Sobre o preconceito
Essas manifestações do grafite, do pixo ou urban art, viraram referências em arte de rua. É só analisarmos São Paulo. O Brasil importou milhões em obras de arte no último ano e acredito que grande parte dessa força veio da rua. O preconceito existiu e sempre vai existir. Basta cada um de nós se livrar dele e saber lidar com o dos outros.
Rafael Sanches, mais conhecido como Sanches, nasceu em 1992. O artista cresceu na região do ABC, em São Paulo, e acredita ter como maior influência a arte urbana aprendida por lá.
Sanches teve o primeiro contato com o grafite aos 14 anos. Quatro anos depois, ele entrou para o curso de arquitetura e, aos 20, conheceu o mundo da tipografia. Sanches é um artista que, apesar de ter como escola a arte de rua, começou a ser notado pelas redes sociais. Foi pelo Instagram que vendeu sua primeira peça e, através do sucesso na rede social, conseguiu consolidar sua arte por todo o Brasil. Suas referências vão desde o Pop Art de Andy Warhol e a arte abstrata de Jackson Pollock até o mundo da tipografia e as “tags” de rua.
Com passagem por galerias como a Oscar48 e Luis Maluf, em São Paulo, a UrbanArts de Salvador e a San Paul Gallery, situada na Wynwood Avenue, em Miami, as obras do jovem artista caíram nas graças de celebridades como o jogador Neymar, o cantor MC Guimê e o DJ Steve Aoki. Marcas famosas, como Bombay Sapphire, Ferrero Rocher e H2OH já apostavam em sua arte, explodindo com as cervejeiras personalizadas da marca Consul.
Em 2015, já havia chamado a atenção da midia com seu mural para clipe da banda Jota Quest.
A definição do artista, por fim, pode ser feita através do comentário de um colecionador carioca, que pontuou: “Sanches desenvolveu uma identidade única. A textura criada pela malha tipográfica, que é a principal característica de seu trabalho, junto aos ‘splashs’ de tinta, que dão um ar totalmente natural ao contexto, são a essência de suas obras”.
Mais algumas fotos: