EstudioBola: ‘tentando’ os deuses do design
Por Maria Alice Miller, designer de interiores e editora do blog www.casacomdesign.com.brPoltrona “Mabelle”, no melhor estilo “vintage fifties”, em estrutura de aço carbono, com almofadas revestidas em couro, é elegância descontraída ao mesmo tempo.
Flavio Borsato e Maurício Lamosa são arquitetos, mas “tentam” os deuses do design com suas criações práticas, livres, modernas e simples. “Praticalidades” sem frescuras para um país que deve ser simples sem perder a elegância; ‘prático’ sem esquecer do charme; útil sem deixar de lado o bom gosto essencial; comum sem deixar de aspirar a ousadia.
A “fofona” “Shell” tem no seu design uma série de estilos: um tanto ‘vintage’, um tanto aerodinâmico, um tanto masculino. O resultado chama atenção e se adapta a diversos tipos de ambientes, além de ser super confortável. Uma das mais conhecidas da dupla.
A escolha do nome já reflete o bom humor dos rapazes que pensaram em algo que é quase marca registrada de Brasil: a junção das primeiras sílabas de seus sobrenomes – “BO” de BOrsato e “LA” de LAmosa, formando BOLA, estudiobola – inspira e mostra o quanto da “Ginga Brasiliensis” vem por aí, mas não há uma concessão sequer a algo pejorativo, ao que hoje se interpreta como “jeitinho brasileiro” ou a hábitos negativos que tantos nos marcam. E mais: há sim, muito, do bom pensamento do design de primeira linha que se faz no mundo. As peças da dupla sempre têm algo de belo, de refinado, de único, com muito trabalho e técnica pois, segundo eles, a inspiração vem é da fábrica mesmo, não de “algum lugar perdido entre suas cabeças e o céu”.
“Mexerica”: inspirada na fruta tipicamente brasileira foi lançada em Milão 2016 com destaque e faz sucesso genuíno aqui e lá fora, seja em couro, seja em tecidos de qualidade como o jeans.
Com mais de 15 anos de história – e boa história, bem sedimentada com prêmios e reconhecimento de quem sabe das coisas do design – os paulistas Flavio e Mauricio sempre criaram para indústria moveleira e, portanto, têm em seu portfólio uma infinidade de peças ditas “complementares” – tais como camas, sofás, mesas (de centro, laterais e de jantar), estantes, home theaters, painéis, módulos, etc. – além daquelas que consagram um designer. Na verdade, Flavio cresceu numa fábrica de móveis e já conhecia alguns dos pequenos segredos e das grandes necessidades dos fabricantes de móveis em grande escala – o que certamente os guiou neste ramo. Mas eles não pararam por aí, e foi com um respeitável trabalho desenvolvido tanto na grande quanto na pequena escala que se consolidaram como um dos ateliês de design mais importantes do país.
“Volpi”, outra das “fofonas” da dupla Borsato e Lamosa, além do conforto tem a bossa do “porta trecos” na lateral para guardar coisas.
E, é claro, eles não chegaram onde estão sozinhos: o estúdio conta com uma equipe de primeira linha que desempenha suas funções com esmero. São profissionais especializados em posições fundamentais a quem se propõe a criar peças de mobiliário para um mercado emergente e ainda pouco afeito à excelência – mas que tem espaço para crescer aqui dentro e lá fora de forma espetacular. A dupla sabe disso e não para de criar coisa boa: suas peças coloridas com traços minimalistas já conquistaram um lugar no ‘hall da fama’ do design brasileiro. E é com as tais “peças consagradoras” – cadeiras, poltronas e bancos em especial – que mostram o quanto têm de criativo e de excelência para fazer parte deste seleto lugar.
A elegância de “Alba”, que pode vir estofada ou com um ‘mesh’ no encosto e no assento. Já em “Yoná”, o requadro que parece que vai se partir de tão fino, revela o talento dos designers na lida com materiais diversos: neste caso, o aço carbono.
O que dizer de cadeiras como “Kiko“, onde o encosto em ângulo manda um recado direto a quem só vê beleza nas linhas ortogonais. E a elegante “Alba“, que parece dobrar-se como as pernas de uma improvável bailarina? E “Diva“, em sua simplicidade de linhas limpas e claras? E bancos como “Kork” ou “Cave“, onde a madeira é tudo o que importa? Mas há muito design e beleza em outros materiais além da madeira, o que nos surpreende, como as estruturas em aço carbono das poltronas “Yoná” e “Mabelle“: no caso da primeira, a leveza de um requadro que parece que vai se partir, dada a delicadeza e espessura do material, com pés que se reúnem em um buquê invertido. No caso da segunda, que com 80 centímetros de largura por 83 de profundidade, e uma almofada que a transforma em peça bastante acolhedora, convida a passar horas de deleite saboreando uma leitura ou observando uma paisagem, sem se preocupar com o tempo…
Simples e de grande efeito, o encosto inclinado de “Kiko” é dos mais interessantes. Já a cadeira “Diva”: traços leves, apropriados para interiores descontraídos.
Vale dizer que coisas fofíssimas como as poltronas “Shell“, “Mexerica” e “Volpi“, cuja estrutura principal é o recheio feito com espuma de diversas densidades, se destacam tanto por seus designs muito bem pensados que se encaixam muito bem a diversos interiores – residenciais ou comerciais – como por seu “poder cativante”, que conquistam qualquer corpo que peça por um pouco de descanso.
Tapete “Star”: design de complementos com simplicidade também interessa à dupla de designers.
Disponíveis em diversos tamanhos e cores, o pendente “Plier” adapta-se bem a uma intensa variedade de situações com design simples e lúdico.
Os bancos “Kork”, “Carretel” e “Cave” mostram um pouco que a dupla sabe sobre a madeira pura.
Além dessas maravilhas, Borsato e Lamosa não deixam de lado a criação de pequenos itens como tapetes, cerâmicas, luminárias de muito bom design e até de fotografias: coisas que podem ser classificadas até mesmo como arte, para além do design.
Apesar de saberem que a real “democracia do design” só virá quando o plástico, o grande material para o design de massa, for incorporado às criações dos designers brasileiros, e entrar no dia a dia das peças de móveis que população usa, a dupla não sai de seu caminho nem perde seu foco, criando beleza com o que é possível, seja em seu ateliê, seja para a fabricantes de móveis que se apresentam. O país possui um enorme mercado potencial, mas precisa fazer um dever de casa muito, muito grande, quando se pensa em investimento e política industrial. Mas bons designers já estão a postos. O estudiobola está!
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